Seishun Buta Yarou Series

Seishun Buta Yarou Series – Volume 01, Capítulo 3

Terceiro capítulo para vocês. ^^ (10546 palavras – capítulo revisado 05/10/18)


Capítulo 3

Problemas Surgem com um Primeiro Encontro


14

O céu estava claro e o clima neste domingo tão esperado era ideal para um encontro.

Ele tinha sido capaz de deixar o trabalho às duas horas em ponto e realmente havia algum tempo antes de seu compromisso, então Sakuta foi para casa por um tempo.

Demorou cerca de três minutos, voando pelas ruas em sua bicicleta.

“Bem-vindo de volta.”

Kaede o cumprimentou e, com um afago na cabeça dela, ele foi direto ao banheiro. Ele lavou o corpo suado devido ao esforço excessivo de pedalar e, por via das dúvidas, vestiu um novo par de roupas íntimas. Kaede observava-o com um olhar confuso.

“Um homem tem que estar preparado para qualquer coisa,” disse ele, como se transmitisse grande sabedoria. “Eu estou indo, Kaede.”

“Ah, certo. Vejo você mais tarde.”

Kaede o assistiu sair de casa mais uma vez às duas e vinte, enquanto segurava Nasuno em seu peito, desta vez indo para a Estação Fujisawa a pé.

Seu corpo estava de alguma forma leve, de modo que ele se sentia como se estivesse de certa forma pulando, apesar de estar andando normalmente. Como se ele tivesse crescido asas.

As familiares ruas das casas pareciam diferentes hoje, as flores que brotavam do asfalto rachado chamavam sua atenção e o chilrear de um pardal nas linhas de energia soava claramente pelo ar.

Como ele gostava dessas coisas, seu humor se acalmou.

Três ou quatro minutos depois de sair de casa, um alegre e feliz Sakuta ouviu uma pequena garota chorando. Adiante dele havia uma garota chorando em voz alta na entrada do parque.

“Você está bem?”

A garota parou de chorar ao ser chamada por alguém próximo, e olhou para Sakuta. Mas imediatamente depois disso:

“Uwaahh, você não é minha Mamãe!”

Ela disse e começou a chorar.

“Você está perdida?”

“Mama desapareceeeu.”

“Yup, você está perdida.”

“Mamãe está perdida.”

“Bem, isso também funciona.” Ela tinha um jeito com as palavras.

“Vamos, pare de chorar.” Sakuta se agachou na frente da garota e colocou a mão na cabeça dela. “Eu vou ajudá-la a procurar por ela.”

“Mesmo?”

“Sim”. Ele sorriu e deu-lhe um aceno firme. A menina parecia estar prestes a sorrir, mas depois inclinou a cabeça de forma confusa. “Vamos então.”

Então, no instante em que Sakuta pegou a mão da garota depois de se recompor—

Surgiu um grito energético atrás dele.

“Morra, seu lolicon pervertido!”

Ele se perguntou o que diabos estava acontecendo e foi dar uma olhada ao redor, mas antes que pudesse ver o rosto da pessoa, uma dor aguda atingiu seu traseiro.

Era como se ele tivesse sido chutado no cóccix por um par de botas afiadas. Na verdade, isso foi exatamente o que tinha acontecido…

“Uoooh!”

Ele se contorceu no asfalto enquanto gritava. Ele podia ver uma garota que não parecia ter a idade muito diferente da dele no canto de sua visão. Provavelmente uma estudante do ensino médio.

Ela tinha um cabelo macio estilizado em um corte bob cut [NT: também conhecido como corte chanel] e uma saia curta. É claro que as pernas dela estavam nuas, e até mesmo sua maquiagem leve era a imagem exata de uma comum garota do ensino médio.

“Rápido, corra!” A estudante apressou a garota seriamente. A garota apenas fez sons de confusão devido aos eventos repentinos. “Vamos, depressa!” Ele não sabia por que ela estava dizendo “Vamos”, mas a estudante pegou a mão da garota e iria levá-la embora.

“Antes que o lolicon se levante!”

“Quem é um lolicon pervertido?”

Sakuta ficou de pé, segurando o traseiro. A força tinha desaparecido de suas pernas por causa da dor esmagadora. Suas pernas de pombo tremiam e ele parecia um potro recém-nascido. [NT: ‘pernas de pombo’ é uma expressão devido ao formato da mesma, recomendo procurar por ‘pigeon-toed legs’]

“Ele estava me ajudando a procurar a Mamãe.”

“Eh?” A estudante exclamou violentamente. “Ele não é um lolicon?”

“Eu gosto de mulheres mais velhas.”

“Mas você é um pervertido!?”

Mesmo quando ela disse isso, o rosto da estudante estava apreensivo. Agora que ele olhou, ela era uma fofa estudante do ensino médio. Seu rosto ainda era ligeiramente cercado pela juventude, e seus olhos bem abertos e a sua maquiagem leve davam-lhe uma impressão agradável e suave. Sakuta sempre via as garotas na escola exagerando na maquiagem, e achou que, caso fossem usá-las, elas deveriam tomar esta garota como exemplo.

“Eu estava a ajudando a procurar juntos por sua mãe perdida.”

“Espere, espere, ela é quem se perdeu, certo?”

“Mamãe está perdida.”

A garota concordou com a explicação de Sakuta, afastando-se da estudante para o lado de Sakuta e agarrando a manga dele com força. Uma reversão completa.

A estudante tinha um sorriso aflito, reconhecendo seu erro.

“Ahh, meu traseiro está doendo.”

“D-desculpe, ahaha.”

“Ele pode ter se dividido em dois.”

“Eh? Isso é terrível! Espere, ele já é dividido em dois!

“Ahh, isso dói, isso dói.”

“Entendi. Eu enteeendi.”

A estudante soltou um grito descuidado… então imediatamente se virou e colocou as mãos em um poste de telefone.

“Aqui!”

Ela empurrou o traseiro coberto pela mini-saia na direção de Sakuta com um grito energético.

15

“Não, não ‘aqui’.”

Ela provavelmente queria que ele a chutasse, mas ele realmente não tinha interesse em chutar o traseiro de uma estudante do ensino médio enquanto pessoas andavam ao redor.

“Apenas se apresse, eu prometi encontrar minhas amigas.”

Sakuta também tinha uma promessa, uma importante por sinal. Enquanto ele fazia isso, o tempo passava. Ele também tinha que ajudar a garota perdida, então ele definitivamente se atrasaria, então agora não era a hora de perder tempo fazendo coisas sem sentido. Neste ponto, chutá-la seria o mais rápido.

“Aqui vai então.”

Ele chutou levemente o traseiro da estudante. Ela deveria ficar satisfeita com isso, ele pensou.

“Mais forte!”

A estudante pediu olhando por cima do ombro.

“Sério?”

Ele a chutou mais forte do que antes, fazendo um baque.

“Mais forte!”

Ainda não era suficiente.

“Tudo bem, eu não sei o que vai acontecer!”

Ele se decidiu. Era um bom homem que concedeu o pedido de uma garota. Sakuta puxou a perna para trás, girando-a para ganhar força extra. Ele avistou o traseiro de seu alvo, firmou sua mira e liberou um sério chute no meio.

Isso produziu um baque baixo.

Um momento passou.

“S-s’doloroso!” [NT: há uma influência do dialeto da garota, seria como “isso foi doloroso”]

Então, ela gritou com a fusão característica de adjetivo e verbo do dialeto Hakata. “Uuu~” Ela se agachou enquanto soltava um gemido, segurando suavemente o traseiro com as duas mãos. Ela abriu e fechou a boca várias vezes, como um peixe-dourado, incapaz de falar por causa da dor. “M-meu traseiro se dividiu em dois…”

Finalmente, ela conseguiu arrancar essas palavras.

“Está tudo bem, ele estava em dois desde o início.”

“Ah, com licença.” Uma voz chamou por trás. Ele e a estudante se viraram ao mesmo tempo e um policial de meia-idade uniformizado estava parado ali, com uma expressão perplexa. “Um parque em plena luz do dia durante um feriado não é o lugar para desfrutar de atividades pervertidas como essa.”

“Não, ela é a única pervertida.”

Ele apontou para a estudante, porque era a verdade.

“N-não! Não é isso! Há uma razão para isso!”

A garota ficou agitada devido ao estranho mal-entendido.

“Vamos ouvir esse motivo na delegacia.”

De repente ele agarrou os braços deles e eles não puderam se mover. Esse era um policial, mesmo que ele fosse de meia-idade, ele era bem treinado e firme. A paz da cidade estava assegurada.

“Eu tenho algo importante para fazer, então me deixe ir!”

Gritou Sakuta. A parte da delegacia não seria brincadeira. Mai poderia esperar por cinco minutos, dez se houvesse um milagre, mas ela não esperaria mais. Afinal, ela era Sakurajima Mai.

“Certo, certo. Acalme-se e venha em silêncio. Você também vem, pequena senhorita. Sua mãe está te esperando na delegacia.”

“Mamãe? Viva!”

Sakuta ficou aliviado com o problema da garota sendo resolvido. Mas mesmo isso…

“Dor está na moda entre a juventude recentemente?”

Foi arruinado pela pergunta do homem.

O homem deixou-os ir uma hora e meia depois que chegaram. O ponteiro do relógio balançava terrivelmente perto da marca das quatro horas. Ele realmente queria encontrar alguém que lhe desse uma máquina do tempo.

“Hahh, nossa, isso é o pior~”

A garota falou com uma expressão cansada enquanto andava ao lado dele.

“Essa é a minha fala, idiota.”

“Por que você está me chamando de idiota? Foi porque você deu-lhe uma impressão errada.”

“Você é a pior por compreender errado as coisas.”

“Isso são desculpas esfarrapadas.”

“Não é uma desculpa, é a verdade. Além disso, é culpa sua que isso demorou tanto, Koga.”

A garota se mexeu de surpresa.

“…Espere, como você sabe meu nome?”

“Koga Tomoe. É um nome fofo.”

“Meu nome completo também!?”

Ela não devia se lembrar de ter dado seu nome na delegacia. Ele sabia que escola ela frequentava também. Na verdade, era a mesma escola que ele, Escola Secundária de Minegahara. Ela estava no ano abaixo dele, sua kouhai.

“Eu sei tudo sobre você.”

“Hah, você é um idiota?”

“Você veio de Fukuoka.”

“Como você sabe?”

“…”

“Ah.”

A apavorada estudante, Koga Tomoe, colocou as mãos na boca.

“Você também gritou ‘s’doloroso!’ mais cedo.”

“E-eu não sei nada sobre isso.”

Ela desviou o olhar. Ele realmente não entendeu, mas ela não parecia querer que as pessoas soubessem isso. Era tarde demais para esconder isso agora.

“Bem, voltando ao assunto, você foi a errada”.

“Me diga seu nome. Não é justo que só você saiba o meu.”

“Eu sou Satou Ichirou.”

Ele não tinha a delicadeza para contar a ela, então contou uma mentira óbvia. Ele achou que era um nome que qualquer um perceberia ser falso, mas—

“Então, Satou, como eu sou a errada?”

Tomoe prontamente aceitou isso. Aparentemente, ela não sabia duvidar das pessoas e era uma garota boa e honesta. Seria apenas um incômodo admitir que era falso agora, então Sakuta decidiu ficar quieto sobre isso.

“Eu vou te dizer se você não consegue entender. Mesmo que o policial tenha entendido o equívoco nos primeiros trinta minutos, você estava apenas no seu smartphone, brincando com ele, sem ouvir a conversa.”

Na verdade, a hora restante foi um sermão sobre não se concentrar apenas no seu ‘telefone’ quando as pessoas conversavam com você. Sakuta não tinha um telefone ou um smartphone, então foi totalmente sem sentido. Mas…

“Isso é verdade… não seja tão lógico sobre isso.”

Ela disse, fazendo beicinho.

“Você refletiu sobre isso?”

“Mas eu recebi mensagens, então não pude evitar.”

“Não poderia evitar o quê?”

“Responder, se eu não fizesse isso rapidamente, perderia minhas amigas.”

Tomoe encurvou a cabeça para a frente com vergonha.

“Ah, então você estava desesperadamente digitando as respostas?”

“Se eu não fizesse isso, elas ficariam bravas.”

Tomoe estufou as bochechas e olhou para ele.

“Hehhh~”

“O que há com essa reação? É assustadora.”

“Naaaada~”

“Você provavelmente está pensando: ‘se elas parassem de ser amigas com você por causa disso, eles não seriam amigas de verdade’.”

Ela provavelmente tinha ouvido isso antes e seu tom se alterou levemente enquanto ela recitava isso.

“Você também não acha isso?”

“C-cale-se.”

Sakuta colocou a mão na cabeça dela e bagunçou o cabelo.

“Wah! Idiota! Meu cabelo estava todo feito.”

Ela sacudiu para longe a mão dele e rapidamente colocou o cabelo em ordem.

“Bem, dê o seu melhor, estudante colegial.”

“O que? Você está tirando sarro de mim?”

“Você está desesperadamente vivendo por essas regras estúpidas, não é? Então eu não vou tirar sarro de você. Embora eu vou pensar que você é um idiota.”

‘Você deve enviar um e-mail’, ‘você deve enviar uma mensagem’, ele não sabia quem queria e tinha feito as regras, ou para que elas existiam. Essas eram regras que estavam lá, a princípio, para fazer as pessoas ‘se sentirem bem’, mas se elas prestassem atenção em tais regras, veriam também que elas se tornavam restrições que as prejudicavam.

Uma vez que as pessoas decidiam fazer regras para si mesmas, resultava isso. Se você não seguisse as regras, você seria excluído, isolado. Simplesmente perdendo seus amigos. E quando você fosse excluído uma vez, você não conseguiria voltar para o rebanho. Sakuta sabia disso bem, Kaede tinha sofrido muito com isso.

Era um desperdício, mas mesmo assim essas regras criavam vínculos entre as pessoas, conectando-as, fazendo com que elas precisassem ter um lugar para pertencer. E-mail por e-mail, mensagem por mensagem; você teria trocas como “Você está bem?”, “Eu estou bem”. Pessoas que não podiam se afirmar eram afirmadas por outras pessoas. E quando isso era compartilhado entre todos, elas simpatizavam e podiam relaxar com um lugar para pertencer.

Ensino fundamental, ensino médio… dentro da sociedade, a escola em geral era um mundo em si. Claro que todo mundo era desesperado quanto a isso.

Sakuta passara a se sentir como se tivesse entendido essa parte da sociedade depois de ter entrado no ensino médio, quando ele tinha começado a trabalhar e entrou em contato com estudantes universitários e funcionários adultos. Ao assistir a atmosfera chamada “escola” de uma perspectiva externa, ele achou que entendeu: o que eles queriam era um lugar para pertencer…

“Você está tirando sarro de mim.”

“Você parece uma boa pessoa, Koga, então tanto faz.”

“O que isso significa?”

“A coragem de tentar salvar uma garotinha de um pervertido deve ser respeitada. Embora seja perigoso, você deve chamar alguém no futuro. Você teria sido atacada se fosse um verdadeiro pervertido; porque você é fofa.”

“N-não me chame de fofa!”

Tomoe recuou, com o rosto vermelho. Talvez ela estivesse surpreendentemente não acostumada a ouvir isso.

“Bem, não esqueça seu senso de justiça e continue levando a vida.”

“Ah, sim, obrigada.”

Tomoe agradeceu-lhe surpreendentemente de forma honesta. Ele julgou que ela realmente fosse uma boa pessoa no coração, deslumbrantemente pura.

Um smartphone tocou. Sakuta não tinha um, então era, claro, o de Tomoe.

“Ah, droga! Eu tinha planos. Até logo!”

Ela saiu correndo. Porque ela estava usando uma saia curta, sua calcinha ficou visível em alguns momentos, mas gritar e apontar isso chamaria a atenção. Então Sakuta ficou em silêncio e a assistiu sair.

“Branco, huh.”

Quando Tomoe tinha desaparecido completamente, ele pensou em voltar para casa e começou a andar.

Ele parou depois de cerca de três passos.

Ele estava esquecendo de algo importante?

“…Ah.” O rosto de Mai passou por sua cabeça. Ela não estava sorrindo gentilmente, e ela não estava fazendo beicinho também. Era a lembrança da única vez que ele a viu seriamente zangada.

“Droga.”

Suas pernas emaranharam enquanto ele corria em direção ao local de encontro designado.

⟡ ⟡ ⟡

Sakuta tinha corrido até a estação que ele usava para ir à escola todos os dias, a Estação Enoden Fujisawa, e estava na frente das catracas de acesso. Este era o lugar onde Mai tinha decidido que eles iriam se encontrar.

Ao recuperar o fôlego, ele olhou para a direita e depois para a esquerda. Não demorou muito para verificar a área de seis ou sete metros de largura na frente das barreiras.

“…”

Infelizmente, Mai não estava lá.

“Bem, claro que não.” Sakurajima Mai não teria esperado por uma hora e meia por ele. “Uwahh, eu realmente fiz isso…”

Arrependimento o preencheu por dentro. Mas ele não poderia ter apenas passar do lado e não ter feito nada quando viu aquela garota perdida, e ele nunca tinha pensado que a garota colegial com um senso de justiça iria se envolver, então ele não pode evitar isso.

Ele se ressentia por não ter telefone ou smartphone. Se ele tivesse, ele poderia ter ligado para ela. Bem, uma vez que ele explicasse, ela teria dito ‘Hmm, então você tem algo mais importante do que um encontro comigo’ ou algo assim, e o encontro não teria acontecido de qualquer maneira.

Neste ponto, como ele iria fazer com que ela o perdoasse? Ela provavelmente estava extremamente zangada por Sakuta não ter vindo e tinha voltado para casa, ou ido para algum lugar sozinha. Ele não achava que ela esqueceria de sua raiva tão facilmente.

Uma série de passos se aproximou por trás da forma abatida de Sakuta. Eles pareciam familiares, mas também pareciam extremamente irritados a julgar pelo seu ritmo.

“Você deve ser bem convencido para me manter esperando por uma hora e trinta e oito minutos.”

“…”

Ele se virou incrédulo e Mai estava em pé ali, vestindo roupas casuais.

“O que? Você parece um cervo diante dos faróis.”

“É só que a Mai-san não é o tipo de mulher que tem a elegância de esperar por um retardatário por uma hora e trinta e oito minutos! Você deve ser uma farsa!”

Os olhos de Mai se estreitaram e a temperatura ao redor pareceu diminuir em vários graus.

“Eu sei exatamente como Sakuta olha para mim.”

Ele provavelmente foi descoberto por olhar para ela principalmente num sentido pervertido.

“Você esqueceu o ‘kun’.”

“Sakuta é o suficiente para você.”

Mai provavelmente quis dizer isso como uma punição, mas francamente falando, não soava como algo além de uma recompensa para Sakuta. Se ele dissesse isso, ela voltaria a chamá-lo de “Sakuta-kun”, então ele ficou quieto.

“Do que você está sorrindo?”

“Nada mesmo.”

Lutando contra a expressão dele suavizando, ele olhou para Mai novamente. Foi a primeira vez que ele a viu em roupas casuais. Ela vestia um colete de malha com capuz sobre a blusa de mangas compridas. Sua saia era da altura do joelho e tinha um design ligeiramente adulto, sendo alargada na orla [NT: pelo que pesquisei, seria um saia evasê ou godê]. Além disso, ela usava botas que alcançavam até bem abaixo dos joelhos. Sua roupa era refinada e elegante, mas conseguia um bom equilíbrio em não ser demais. Ela se encaixava muito bem com Mai, com seus traços adultos.

“…” Mas nada estava exposto, o máximo que ele podia ver era uma pequena área logo acima dos joelhos. “Hahh…”

Ele não pôde deixar de soltar um suspiro.

“O que há com essa reação indelicada?”

“Mai-san, você está sã?”

“O-o quê?”

Mai se afastou, cautelosamente.

“Um encontro exige uma minissaia e pernas nuas!”

“Eu vou bater em você.”

Mai apertou seu punho.

“Hahh…”

“Você está chateado com isso?”

“Eu estava bastante ansioso por isso.”

“Você tem coragem depois de ter chegado tão tarde.”

“Você está sempre usando meia-calça com seu uniforme.”

“O-o quê? Eu pensei bastante sobre o que colocar…”

Ela desviou o olhar e murmurou.

“Bem, ficou muito fofo”.

“…”

Com um olhar de lado, Mai exigiu mais.

“Você está muito atraente, Mai-san.”

“É bom que você seja honesto.”

“Meu coração dispara, eu quero pegá-la, levá-la para casa e colocá-la como decoração no meu quarto.”

“Qualquer coisa a mais do que isso é assustador, você não precisa dizer essas coisas.”

“Vamos então?”

Ele tentou indiretamente se mover para eles saírem.

“Espere, a conversa não acabou.”

“Havia mais alguma coisa?”

Era algo que ele queria evitar, então ele fingiu ignorância.

“Já chega com a atuação horrível.”

“Atuar na sua frente seria aterrorizante.”

“Faça a sua desculpa por estar atrasado, então sinceramente implore por perdão.” Mai parecia estar se divertindo de alguma forma, e sua expressão estava animada. “Se não for bom o suficiente, eu irei para casa.”

Talvez ela tinha esperado por uma hora e trinta e oito minutos para provocá-lo. Isso é o que ele achou.

“Enquanto eu estava no meu caminho, encontrei uma criança perdida na esquina da área residencial.”

“Eu estou indo para casa.”

“Parece uma mentira, mas é a verdade!”

“Se você veio do trabalho, por que você passou pela área residencial?”

Mai olhou de forma aguçada para ele.

“Eu fui para casa primeiro.”

“Por quê?”

“Eu tinha tempo, então tomei um banho e troquei minha roupa íntima para o momento crítico.”

“…Nojento.” Mai se afastou dele. “Bem, isso é apenas o esforço inútil de um garoto mais novo, então eu vou ter que aceitar isso.”

“Muito obrigado.”

“No entanto, não chegue mais perto que trinta metros de mim.”

Isso não poderia mais ser chamado de encontro, Sakuta se pareceria com um stalker.

“Vamos, continue sua história.”

“Eu realmente fui com ela para uma delegacia de polícia.”

“A criança perdida era uma menina?”

“Ela era.”

“Você tem alguma coragem para me manter esperando para encontrar outra garota.”

“Mesmo que ela tivesse seis anos!?”

“Mesmo assim.”

Ela negou sem hesitação. Neste ponto, havia o risco de ser muito honesto e contar tudo a ela. O dia em que ele diria a ela que estava com uma linda garota colegial chamada Koga Tomoe… ela na verdade era uma estudante do ensino médio bastante bonita, que sabia de que forma ele seria agredido.

“Mas há uma delegacia bem ali?”

Mai apontou um pouco além da entrada da estação.

“Ela me pediu para ficar até que eles encontrassem seus pais e estava chorando.”

“Hmmm.” O olhar de Mai o apunhalou com dúvida. “Eu odeio mentiras.”

“Que coincidência, eu também.”

“Se você estiver mentindo, você irá comer pocky com o nariz.”

“Um palito?”

“Uma caixa.”

Era o tipo de tortura que poderia ser feito com pressa, e as situações que ele podia imaginar eram coisas que ele preferia evitar.

“Eu não acho que você deveria desperdiçar comida.”

“Você vai comer, então está tudo bem.”

“…”

“…”

Ela moveu o rosto para perto dele e o encarou cuidadosamente, pressionando-o a confessar. A respiração dela fez cócegas em sua bochecha e ela cheirava bem.

“Você é teimoso.”

“…”

Ele definitivamente não podia dizer a verdade agora. Ele não queria comer pocky pelo nariz.

“Bem, tudo bem. Eu não vou te perdoar, mas eu vou em um encontro com você.”

Ele poderia se alegrar com isso.

“Muito obrigado.”

Então, no instante em que Sakuta relaxou:

“Ah, aquele lolicon de antes.”

Ele ouviu uma voz familiar.

Ele olhou para o corredor que conectava as estações JR e Oda Express e viu Koga Tomoe, com quem ele estivera junto antes. As três garotas com quem ela estava eram provavelmente as amigas com quem ela tinha planos. Elas eram um grupo de quatro garotas que tinham uma atmosfera chamativa sobre si e pareciam se dar bem. Elas pareciam ser o grupo central de sua turma.

“Aquela mulher de Hakata de antes.”

Tomoe se aproximou apressadamente de Sakuta reagindo a ele e tentou cobrir sua boca.

“N-não diga isso!”

Ela silenciosamente ameaçou-o.

“A mulher de Hakata?”

“Ah, você sabe, aquela lembrançinha de Fukuoka? Aquela com yokan em Baumkuchen. Embora a personagem feminina não seja lida como ‘mulher’, mas sim como ‘pessoa’.”

“Ah, eu já comi isso, era gostoso.”

“Hey, Tomoe!”

Outra das suas amigas agarrou-a pelo braço e afastou-a de Sakuta.

“O-o quê?”

“Esse é o cara do incidente do hospital.”

Mesmo sussurrando, a voz dela era claramente audível. Tomoe então murmurou.

“Eh? Ele chama Satou Ichirou.” E por ai vai.

“Huh? O que você está… de qualquer maneira, olhe.”

Desta vez, as meninas reunidas olharam para Mai. Aparentemente, elas conseguiam vê-la.

“Venha, vamos.”

Puxada por suas amigas, Tomoe correu através barreira. Enquanto as observava, Sakuta percebeu seu erro. Ele reflexivamente respondeu para Tomoe, mas ele deveria fingir que não a conhecia, isso teria sido muito melhor.

Ele olhou para Mai. Ela tinha um rosto perfeitamente inexpressivo.

“Hey, Sakuta.”

“É um engano…”

“O que Tomoe-chan disse.”

“Mais ou menos.”

“Não se preocupe, eu não vou para casa.” Mai colocou o braço ao redor dele. “Primeiro precisamos comprar o pocky.”

“Você pode comprar os mais finos?”

“Não~”

Ele não conseguia parar para apreciar o tom travesso dela, nem a sensação envelopando seu braço.

“Por favor!”

“Não, seu lolicon.”

E assim… Seu primeiro encontro com Mai começou indo em direção à loja de conveniência em frente à estação.

⟡ ⟡ ⟡

O estalo de um palito de pocky quebrando ressoou.

Sakuta estava sentado ao lado de Mai em um vagão no trem Enoden, nos assentos voltados para o mar.

Outro estalo soou. Mai estava comendo o pocky que comprara na loja de conveniência, palito a palito. A pequena abertura da boca dela o encantava. Claro, Mai não estava fazendo isso intencionalmente, mas o pouco tempo que ela tomou antes de mastigar para comer apenas a ponta doce do pocky prendeu a atenção dele.

No entanto, ele não podia meramente apreciar a cena. Ele não sabia quando ela iria perfurar o nariz dele com um palito de pocky, então ele estava desconfortável.

E então, essa hora chegou surpreendentemente rápida. Mai estendeu um palito de pocky e disse:

“Pegue.”

“Estou cheio,” ele respondeu firmemente.

“Eu não quero engordar, então coma o resto.”

“De que maneira.”

“Você pode comê-los normalmente.”

Mai olhou de soslaio para ele com um suspiro.

“Obrigado pela comida.”

Ele pegou a caixa inteira.

“Você realmente achou que eu faria você comê-los com o nariz?”

“Você parecia completamente séria.”

“Isso era uma atuação.”

“Foi impressionante.”

“Bem, eu pensei que poderia fazer você tentar pelo menos um.”

“Uwahh, você é um verdadeiro demônio.”

“Parece que você não se arrependeu corretamente, não é?”

“Eu sinto muito, isso foi uma mentira. Oh grande e linda Mai-sama, por favor, me perdoe.”

“De alguma forma, você não parece ser muito sincero.”

Mai voltou seu olhar cansado para a janela. Apesar de estarem apenas três estações de distância da Estação Fujisawa, o mar não estava visível. Em pouco tempo, o trem chegou ao trecho dos trilhos passando entre as casas de ambos os lados.

Como estava no fim da tarde, o vagão não estava tão cheio e ainda havia lugares vazios. Ele indiretamente checou as reações dos passageiros nas proximidades, mas eles não pareciam ter notado ela… eles provavelmente não conseguiam vê-la, ele pensou.

“Hey.”

“Você vai me dizer para me desculpar com minhas mãos e joelhos no chão?”

“Não. Sakuta, por que você se importa comigo? Sua punição é confessar o porquê.”

“Por que mencionou isso?”

“Normalmente, você não gostaria de se envolver com uma mulher problemática como eu.”

“Então você percebeu isso sozinha.”

“Qualquer um perceberia se olhasse as reações de todo mundo.”

Mai estava isolada de sua turma e da escola como um todo. Todos a tratavam como a atmosfera, não sendo algo para se relacionar.

“É porque você é assim não cooperativa que você não tem nenhum amigo, Mai-san.”

“Você também não é cooperativo.” Ele fingiu não ouvir o cinismo de Mai. Ele sabia que, mesmo que ela não tivesse dito isso, Yuuma e Rio sempre diriam o mesmo. “Não só, você é estranhamente corajoso.”

“Eu sou?”

“Você é o único que fala comigo sem medo.”

“Isso é verdade, você parece bastante assustadora, Mai-san. Eu acho que é por isso que você não consegue fazer amigos.”

Seria difícil falar com ela se ela fosse apenas bonita, mas ela também era conhecida em toda a nação como uma atriz.

“Cale-se.”

“Mai-san, você gosta da escola?”

“Se você está perguntando isso como em ‘apesar de não ter amigos’, então esse é o caso desde a escola primária, então eu realmente não penso em nada disso. Contudo eu não acho que a escola seja agradável, não.”

Isso não foi um blefe, nenhum engano, era sem dúvida os verdadeiros sentimentos dela. Ela não sentia nada sobre não estar acostumada à escola, não sentia nenhum desconforto com a diferença entre ela e as pessoas ao seu redor. Ela havia se conformado com isso há muito tempo, e Sakuta achava que esses sentimentos haviam desaparecido.

“E não mude de assunto.” Ela olhou de forma aguçada para ele do seu lado. “Eu fiz uma pergunta e você ainda não respondeu.”

“O que foi mesmo?”

“Por que você está interferindo tanto comigo, indo tão longe a ponto de dar àquela apresentadora informações que o colocam em uma posição ruim? Você deve ter um motivo para fazer isso.”

Ela estava falando muito mais duramente do que antes.

“Eu apenas tenho esse tipo de personalidade; eu não posso deixar sozinho alguém que precise de ajuda.”

“Eu estava te perguntando seriamente.”

“Malvada.” Sakuta respondeu.

“Você é de bom coração, mas não por natureza.”

“Eu não sou?”

“Nem todo mundo é gentil. Algumas coisas horríveis foram ditas por aquele casal da Estação Shichirigahama que tentou tirar uma foto minha.”

“Acho que eles diriam aquilo mesmo que não fosse eu.”

“Eu estou dizendo que você não conversou gentilmente, você poderia ter dado um leve aviso, não é?”

“Mesmo que eu estivesse com raiva?”

“Você poderia ter feito isso se quisesse, não poderia? Se você não estivesse calmo o suficiente, você não teria sido capaz de encurralá-los verbalmente daquele jeito.”

“Quanto mais eu ouço, pior a minha personalidade soa…”

“Você achou que ela era boa?”

Mai olhou para ele com uma falsa surpresa.

“Há alguém com uma personalidade pior aqui.”

“Já é o suficiente disso, apresse-se e diga-me.”

Mai não deixaria que ele evitasse o assunto, como de costume.

“Eu responderei seriamente e, em seguida, farei uma pergunta séria.”

“Continue.”

“Foi uma chance de me aproximar da minha linda senpai, então eu fiquei motivado.”

“Quem disse para ser tão franco sobre isso?”

“Você foi aquela que me disse para ser sério, Mai-san, não foi?”

“Diga-me o seu verdadeiro motivo.”

Normalmente, ela não gostaria de ouvir as verdadeiras intenções dele. Talvez. Ele ainda não entendia o senso de valores dela.

“Porque é irritante não ter ninguém em quem confiar quando você está em apuros.”

“…”

Desta vez ela não disse nada, ele provavelmente tinha passado.

“Quando Kaede teve a Síndrome da Adolescência, ninguém acreditou no que estava acontecendo bem na frente de seus olhos…” Ele pegou um palito de pocky e levou-o à boca. Mai ficaria zangado com as maneiras dele se continuasse falando enquanto comia, então ele engoliu primeiro e depois continuou. “Ninguém me ouviu, e todo mundo se afastava de mim. E mesmo que estivesse dizendo a verdade, todos me chamavam de mentiroso.”

Mesmo assim, ele não achava que eles poderiam ajudar quanto a isso. É mesmo, eles não poderiam. Mesmo Sakuta teria fechado os olhos e ouvidos para isso, não vendo e nem ouvindo tal acontecimento. Era mais fácil viver assim. Todo mundo sabia disso.

“Posso perguntar uma coisa?” Mai falou, um tanto hesitante. Sakuta assentiu para ela, já quase certo do que ela perguntaria. “E seus pais?”

Ela perguntou cuidadosamente. Ela tinha um relacionamento ruim com sua própria mãe, então estava receosa de causar qualquer conflito desnecessário. Sakuta a admirou se colocando no lugar dele assim. Ela poderia agir como uma rainha, mas ela entendia os sentimentos de seu povo.

“Nós vivemos separadamente agora.”

“Eu sei disso, imaginei isso quando entrei em sua casa.” Ver os quartos deles eliminara a necessidade de uma explicação, não havia sinal de um adulto ali e não havia sapatos na entrada além dos de Sakuta. Quando eles foram para o quarto dele, a atmosfera era a mesma onde normalmente haveria um senso de território separado do da família. “O que eu quero perguntar é…”

“Eu sei.” Claro, ele sabia o objetivo da pergunta de Mai, ela estava perguntando sobre a reação deles aos problemas com Kaede. Ele pegou três palitos de pocky, esvaziando a caixa antes de esmagá-la e colocá-la no bolso. “Minha mãe, bem, ela tentou aceitar isso, mas foi demais, algo aconteceu… ela ainda está no hospital. Ela estava bastante preocupada com o fato de que Kaede estava sofrendo bullying, mas isso é apenas sensato com algo incompreensível como a Síndrome da Adolescência. Meu pai está cuidando dela.”

Sakuta ainda não sabia como se sentir sobre isso. Antes que ele pudesse fazer alguma coisa, as coisas tinham mudado e ele só percebera quando esse era o caso.

Tudo o que restou foram os resultados.

Ele não tinha sido capaz de fazer nada, e não havia nada que ele pudesse fazer.

“Com o choque de ser rejeitada pela mãe, e pensando que era por causa de si mesma… Ela não abraçaria ninguém além de mim, seu irmão mais velho.”

“Quantos anos ela tinha mesmo?”

“Dois anos mais nova que eu, no seu terceiro ano do ensino fundamental. Desde então ela ama a casa e não vai à escola. ”

Estritamente falando, ela não podia sair… Se ela colocasse os sapatos e ficasse na entrada, ela não se moveria ao dar um passo para sair pela porta, e começaria a chorar como uma criança dizendo “Não, não!”

“Você… se ressente da sua mãe?”

“Bem, sim, claro que sim”, respondeu Sakuta com sinceridade e sem rodeios. “Eu achei que era óbvio que nossos pais nos ajudariam, que eles acreditariam em mim e em Kaede.”

Mas também havia coisas que ele aprendera ao viver separado. Por exemplo, todos os dias, sua mãe cozinhava para eles, lavava para eles, limpava a banheira e o toalete e assumia todos os tipos de responsabilidades sozinha. Quando eles tiveram que viver juntos, Sakuta achou que isso era apenas natural.

Havia coisas que ele percebeu agora que ele tinha que fazer alguma coisa se a quisesse feita, coisas que haviam mudado. Podia ser nada demais, mas quando ele se sentou no banheiro, por exemplo.

Ele pensou que sua mãe tinha que suportar algumas situações, as quais ela queria que sua família notasse, mas ela nunca tinha dito uma palavra sobre isso na frente de Sakuta. Nunca mostrado isso em seu rosto. Ela nunca pedira uma única palavra de agradecimento.

Quando ele pensou em não ser capaz de agradecê-la por aqueles dias, ele tinha a sensação de que seu ressentimento poderia estar equivocado. Foi assim que ele tinha se sentido durante o ano que passou. Ele sentia o mesmo em relação ao pai, que se reunia com eles mensalmente para saber como eles estavam. Enquanto cuidava de sua mãe, ele reservava dinheiro para os gastos deles. Mesmo que Sakuta trabalhasse o máximo que podia, ele sabia que na realidade, ele não seria sequer capaz de pagar o aluguel do apartamento em que moravam e tinha que admitir isso. Admitir que ele não conseguia viver sozinho…

“O que aconteceu com Kaede me fez entender. Ainda sou uma criança e até adultos não conseguem resolver tudo… claro que eles não conseguem. ”

“Hmm, isso é incrível.”

“Uwahh, eu estou sendo chamado de incrivelmente idiota.”

“Isso não é o que estou dizendo. Há muitos de seus colegas que não percebem isso, certo?”

“Eles simplesmente não tiveram a chance de perceber isso, se tivessem que enfrentar o problema, todos perceberiam.”

“Então, para onde esta indo essa conversa?”

Mai estava prestando atenção na janela, e estava chegando ao ponto em que o mar estava visível.

Ele podia lembrar a pergunta perfeitamente.

“Sakuta, por que você se importa comigo?”

Este foi o começo dessa conversa.

“Eu estava sozinho. Havia alguém que ouvia seriamente o que aconteceu com Kaede com a Síndrome da Adolescência…

Se ele não tivesse sido capaz de conhecê-la, Sakuta não achava que ele teria sido capaz de superar o incidente com Kaede. Foi quando ele percebeu algo.

Que havia coisas piores do que estar sozinho neste mundo.

Não haver ninguém era o pior.

Ele tinha certeza de que todos percebiam isso subconscientemente. Então, eles ficavam aterrorizados com isso, e não perdoavam as respostas tardias aos e-mails, ou deixavam as mensagens como ‘lidas’, sem saber que isso também piorava as coisas… Não sabendo que isso em si tornava um motivo para você não ter ninguém…

“Havia alguém que acreditava em mim,” ele terminou.

Foi um tanto doloroso lembrar-se dela, e pensar no nome dela o fez morder o lábio inferior.

“Essa era uma mulher.”

“Eh?”

Sakuta ficou surpreso com a afirmação franca dela. Sua fria e calma voz tinha alguma força por trás.

“Você estava fazendo esse tipo de expressão.”

Ela não parecia interessada.

O trem estava a uma estação antes de onde eles normalmente desciam, Estação de Shichirigahama… a parada em frente a Escola Secundária de Kamakura. No instante em que as portas se abriram, Mai de repente se levantou.

“Estamos saindo.”

Seus planos deveriam ter sido na última estação, e eles precisariam andar de trem por mais quinze minutos.

“Eh, Kamakura?” Quando ele pediu por confirmação, Mai já havia saído do trem. “Ah, espere.”

Ele seguiu apressadamente.

Alguns segundos depois, as portas do trem se fecharam e ele, lentamente, deixou a plataforma. Mai observou até que o trem saísse do local e depois olhou para o mar.

A estação foi construída de frente para o mar e no topo de uma colina, então não havia nada para obstruir o local. Apenas por ficar de pé na plataforma, esperando por um trem, dava-lhe o monopólio da vista do mar. Era um local que parecia passível de aparecer em filmes e dramas. Aparentemente tinha sido de fato usado para gravar, já que Sakuta já havia visto grupos de pessoas com Câmeras de TV antes.

“Já é noite porque você estava uma hora e trinta e oito minutos atrasado.”

O sol começara a tingir o céu de vermelho enquanto se dirigia para Enoshima.

“É uma pequena caminhada.”

Mai apontou para o mar e saiu da estação sem esperar por uma resposta. Mesmo quando ele deu um sorriso aflito para o contínuo comportamento estranho dela, Sakuta andou feliz ao lado.

Sakuta e Mai cruzaram a Estrada Nacional 134, que tinha semáforos que raramente ficavam verdes, depois desceram uma escada que tinha cerca de vinte degraus e foram para a praia de Shichirigahama.

Eles se afastaram de Shichirigahama e se dirigiram na direção de Kamakura.

A areia em seus pés faziam seus passos ficarem pesados.

“Você sabia? Mesmo que Shichirigahama seja escrito com “sete ri”, ela não é tão longa assim?”

“Um ri tem cerca de quatro quilômetros e a praia não tem sequer três.”

Em outras palavras, sequer era questão de ler as medidas erradas.

“Isto é chato.”

Aparentemente, isso era uma informação importante para Mai.

“Kujukurihama de Chiba também não tem noventa e nove ri de comprimento, aparentemente.” [NT: ‘hama’ = ‘praia’, então ‘Kujukurihama’ = ‘Praia de 99 ri’ e ‘Shichirigahama’ = ‘Praia de 7 ri’]

“Você sabe de algumas coisas chatas.”

Mai disse por cima do ombro, como se estivesse realmente entediada.

“Mesmo que você tenha trazido o assunto?”

“Então, que tipo de pessoa ela era?”

“Hm?”

Correndo um risco, ele fez como se não entendesse.

“A garota de conto de fadas que acreditou em sua fofoca.”

“Você está curiosa?”

“Qual era o nome dela?”

“Você está curiosa.”

“Apenas me diga o nome dela.”

“O nome dela era Makinohara Shouko. Ela tem cento e sessenta centímetros de altura e é ao todo menor que você. Eu não sei o quanto ela pesa.”

Sakuta recitou enquanto ouvia as ondas.

“Se você soubesse, eu teria que perguntar o porquê.”

“Como devo dizer isso, ela escutava as pessoas, mas… não as deixava mudá-la e era estranhamente antipática”.

“Hmmm.”

Mai reagiu friamente, apesar de ter sido ela quem perguntou.

“Se eu tivesse que pensar em um traço particular dela, seria que ela usava um uniforme da Escola Secundária de Minegahara.”

“…” Nesse ponto, Mai finalmente olhou para ele. “Você tentou entrar na Escola Secundária de Minegahara para persegui-la?”

“As coisas estavam difíceis em casa depois do que aconteceu com Kaede, então decidi me mudar. Havia um assunto de mudar ainda mais longe, mas eu não achava que a distância importava muito para as fofocas na internet… E então, bem, a razão pela qual eu vim para cá é como você disse.”

Ele confessou honestamente, agora que ele havia dito isso, não havia sentido em esconder.

“Mas ela rejeitou você.”

Mai parecia gostar de um pouco de tristeza alheia. [NT: por curiosidade, o texto utiliza a palavra ‘schadenfreude’, que é um empréstimo linguístico do alemão]

“Acabou do mesmo jeito, mas eu não confessei.”

“Mesmo que você tenha feito um esforço para ir para a mesma escola?”

“Eu não consegui encontrá-la.”

Ele pegou uma pedra da praia e a jogou no mar. Agora que ele pensou nisso, essa poderia ser a praia em que ele jogou seu telefone.

“Então ela se graduou.”

“Nós nos conhecemos quando eu estava no terceiro ano no ensino fundamental, e ela disse que estava em seu segundo ano do ensino médio.”

“Então ela transferiu?”

“Se fosse isso até estaria tudo bem.”

“Você diz isso como se alguma outra coisa tivesse acontecido.”

“Eu passei por todas as salas de aula do terceiro ano e falei com todos os alunos.”

“E eles disseram?”

Sakuta balançou a cabeça lentamente.

“Que eles não conheciam uma aluna chamada Makinohara Shouko.”

“…”

Mai parecia perdida em como compreender isso.

“Eu olhei para os registros dos alunos, até achei que ela teria que repetir o ano… e olhei todos os álbuns de formatura dos últimos três anos.”

Mas, é claro, ele não conseguiu encontrá-la.

Não havia registros de uma aluna chamada Makinohara Shouko.

“Eu realmente não entendo, mas eu definitivamente conheci alguém chamada Makinohara Shouko, e ela definitivamente me salvou.”

“Certo.”

“Parece que eu não vou ser capaz de retribuir o favor para ela, então eu pensei em tentar fazer isso com você.” Isso era algo que não poderia ser resolvido sozinho, você precisaria de alguém ao seu lado para sentir salvo. Essa foi a experiência de Sakuta dois anos atrás. “E há algo que eu quero saber.”

“Algo que você quer saber?”

“Por que a Síndrome da Adolescência ocorre, se eu soubesse disso…”

A mão de Sakuta se aproximou do peito dele.

“Você está preocupado com a sua cicatriz?”

“De certo modo.” As aulas de natação eram bastante deprimentes quando o verão se aproximava, se ele pudesse se livrar da cicatriz, ele participaria a qualquer custo. “E se eu puder resolver isso, pode ajudar Kaede também.”

“Entendo.”

Ele pensou que seria uma pena se ela nunca pudesse sair de casa. Desperdiçando todos os dias lendo e brincando com Nasuno, o gato, era definitivamente uma pena. Ele queria trazê-la para esta praia. Então ele queria saber muito sobre a Síndrome da Adolescência e encontrar uma maneira de resolver o caso da Kaede. Essa foi a razão pela qual Sakuta tinha se interessado primeiramente por Mai…

Mesmo sem expressamente dizer isso, o perfil de Mai tinha um sorriso que dizia que ela tinha visto através dele. Sakuta pegou outra pedra e atirou-a para o mar, onde traçou um arco e caiu com um respingo.

“Hey.”

“…”

Ele esperou silenciosamente pelo o que ela diria em seguida.

“Você ainda gosta dela?”

“…”

Se ele gostava, ou se não gostava, ele poderia responder imediatamente, e nem mesmo Sakuta iria desviar-se disso com um sorriso.

“Você ainda gosta da Makinohara Shouko-san?”

Ele mentalmente repetiu as perguntas dela mais uma vez.

“Você ainda gosta dela?”

Poderia ser um problema que ele evitou até hoje.

“Você ainda gosta da Makinohara Shouko-san?”

Até hoje, sempre que ele pensava nela, seu peito ardia, e se ele pensasse muito nela, iria ficar dolorido e ele não conseguiria dormir. Mas agora que um ano tinha se passado desde então, isso era diferente. Isso havia mudado.

Ele achava que chegara a uma conclusão há muito tempo, mas inconscientemente evitava colocar isso em palavras. Ele pensou que poderia ser capaz de dizer isso aqui.

“Eu seriamente gostava dela.”

Ele falou seus sentimentos enquanto olhava para o mar. Simplesmente fazendo isso, era como se uma carga tivesse sido retirada de seu peito.

Mesmo sem a oportunidade, os sentimentos se alteravam para lembranças com o passar do tempo. Mesmo uma ferida de amor não correspondido iria gerar uma cicatriz, e essa cicatriz cairia sem aviso prévio. E assim, as pessoas seguiam em frente.

“Você pode muito bem dizer mais alto.”

“Se eu desse a você esse tipo de material, eu seria provocado pelo resto da minha vida.”

“Eu vou gravar para você.” Mai pegou seu telefone. “Vamos, diga.”

De alguma forma ela parecia ter ficado com um olhar afiado, mas provavelmente era a imaginação dele.

“Você parece muito zangada?”

“Hah? Eu? Por quê?”

Ela estava claramente com raiva e irritada. Seu olhar afiado e suas emoções pareciam estar atacando Sakuta.

“Eu que fiz a pergunta…”

“Existe alguém que ficaria feliz com o seu parceiro de encontro confessando que gostava de outra pessoa?”

“Eu disse ‘gostava‘, isso é importante! “

“Hmm.”

Ela não pareceu realmente concordar. Levaria algum tempo para agradar a ela novamente. Assim que Sakuta pensou nisso:

“É o maaaaaar.”

Ele ouviu uma voz despreocupada. Olhando, ele viu um homem e uma mulher descendo as escadas para a praia.

O homem tinha os cabelos despenteados e um grande par de headphones em volta do pescoço.

A mulher era magra e usava óculos. Ela estava olhando para o namorado enquanto ele corria pela praia. Seus saltos estavam afundando na areia e dificultando a caminhada.

Ambos pareciam ser um pouco mais velhos que Sakuta e Mai, provavelmente estudantes universitários.

O namorado dela retraçou seus passos até onde ela estava lutando contra a areia, e então de repente.

“N-não brinque comigo.” Ele levantou sua resistente namorada como se carregasse uma noiva e levou-a para a beira da água. “Nossa, não acredito que você fez isso.”

As bochechas dela estavam vermelhas quando ele a soltou. Sakuta era o mais próximo e ele indiretamente os observava.

“Você tem alguma coragem.” Mas o namorado a deixou e estava gritando nas ondas, não ouvindo de fato. Eles eram um casal estranho. “Está frio, estou saindo.”

Ele imediatamente a abraçou por trás quando ela disse isso, e Sakuta não pôde deixar de soltar um grito. Mas, felizmente, o casal paquerador parece não ter ouvido.

“Você está realmente quente.” Disse o homem.

“…”

A mulher pareceu resmungar alguma queixa, mas se enterrou nos braços dele de maneira fofa.

Sakuta olhou de soslaio para Mai.

“Eu não estou com frio.”

Sua estratégia falhou com o aviso preventivo dela.

“Caaara, com certeza está frio.”

Ele olhou para o mar e murmurou, recebendo um olhar de nojo de Mai.

O casal saiu pela orla, de mãos dadas. Era como uma cena em um filme.

“Cara, isso seria bom.”

“Seria.”

“Hm?”

“N-nada.”

Mai aparentemente soltou seus verdadeiros sentimentos e rapidamente se virou.

“Devemos dar as mãos?”

“Por que você é tão arrogante?”

Mesmo quando ela disse isso, Mai obedientemente colocou a mão sobre a palma estendida de Sakuta. No entanto, isso não era para dar as mãos. Quando a mão dela se afastou, seu telefone permaneceu na mão dele, um smartphone com uma capinha de coelho vermelho.

“Você está me dando?”

“Eu não estou.”

“Então…”

Quando ele estava prestes a continuar sua pergunta, o olhar de Sakuta caiu na tela.

Havia uma mensagem escrita nele. Ele perguntou em silêncio se podia ler, e Mai assentiu com uma expressão um tanto desconfortável.

No dia 25 de Maio (domingo), venha à praia de Shichirigahama às 17h.

Isso era hoje e seriam cinco horas dentro de cinco minutos.

Ele não sabia por que Mai estava mostrando a ele a mensagem.

Ele entendeu quando olhou para o campo “Para”. A palavra “Empresária” estava escrita lá.

Em outras palavras, foi um e-mail enviado para a mãe de Mai e, além disso, a tela dizia que ele já havia sido enviado. Foi enviado no dia em que eles concordaram em ir nesse encontro. O dia em que Mai lhe dissera que voltaria ao show business, depois de terem se separado.

Logo chegaria a hora do compromisso.

“Você irá encontrá-la?”

Ele perguntou, enquanto retornava o telefone.

“Eu não quero.”

“Então não vá.” Mai tinha se afastado de sua mãe em seu terceiro ano do ensino fundamental devido a discussão sobre seu photobook. Ela já havia decidido mudar de agência, então agora não haveria necessidade de falar diretamente com a mãe dela. “Ah, há coisas ainda para lidar no contrato?”

“Eu deixei o contrato com a agência dela ao mesmo tempo em que entrei em hiato, então está tudo bem.”

E então tinha que ser um problema do coração. Se ele tivesse que distinguir o tipo…

Mai tinha um rosto triste enquanto observava as ondas. Embora ela possa ter decidido encontrá-la, ela ainda parecia não querer.

“Minha lógica é ‘não faça coisas que você não quer’.”

Ele falou para ninguém.

“E há algo a mais?”

“Bem, ‘você só tem de fazer o que for necessário’ vai junto na frase.”

Ele olhou para o mar e falou resolutamente.

Havia coisas que você poderia evitar.

E havia coisas que você não poderia.

Havia esses dois tipos de coisas neste mundo. Não havia necessidade de fazer coisas que você podia evitar, mas afastar-se das coisas que não poderiam ser evitadas interromperia seu progresso.

E, nesse caso, Mai sentia que encontrar sua mãe era o último desses dois tipos.

“Você está bem?”

Sakuta perguntou diretamente.

“É algo que eu me decidi, então… Além disso, parece que ela já está aqui.”

Mai tinha notado uma pequena silhueta vindo da direção de Enoshima.

“Ela é uma pessoa pontual.”

Ela ainda estava longe, então Sakuta não conseguia distingui-la. Mas a certeza de Mai era, é claro, porque eram mãe e filha.

“Vamos lá.” Mai sacudiu o pulso para ele como se fosse espantar um cachorro de rua. “Talvez eu devesse cumprimentá-la, visto que estou aqui.”

“…” Mai olhou seriamente para ele e ele não podia fazer nada além de levantar as mãos em sinal de rendição. “Continuaremos nosso encontro quando eu terminar, então espere um pouco.”

“Okay.”

Ele andou ao longo da beira da água e sentou-se em um pedaço de madeira que tinha sido carregado pela água. A distante figura gradualmente cresceu e Sakuta conseguia vê-la claramente.

Ela era uma incrível beleza que era semelhante a Mai. Estritamente falando, Mai seria semelhante a sua mãe, mas…

Ela era magra, alta e ainda parecia jovem. Ao menos, ela não parecia ter idade suficiente para ter uma filha em seu terceiro ano do ensino médio. Ao vê-la pessoalmente, Sakuta lembrou dos rumores de que ela deu à luz a Mai quando ela tinha vinte anos.

Se isso fosse verdade, ela deveria estar em seus trinta anos. Ela não parecia diferente de uma mulher mais velha, mas ela não tinha a aura de “mãe”, e seu traje brilhante reforçava essa impressão ainda mais.

A mãe de Mai se aproximou dela passo a passo, e estava a cerca de uma dúzia de passos de distância.

Ele viu Mai dizer algo, provavelmente algo como ‘já faz um tempo’, o som das ondas abafou as palavras e ele não conseguiu ouvi-las. A mãe dela apenas diminuiu um pouco a velocidade e não parou, e não deu sinais de responder.

Mai disse outra coisa, inclinando-se para frente e falando desesperadamente.

“…”

Como ele achava que as coisas estavam estranhas, ele notou, o olhar da mãe dela não tinha parado, estava balançando para a esquerda e para a direita, parecendo para Sakuta quase como se estivesse procurando por quem a convocou.

E mesmo que ela estivesse bem na frente de Mai, ela não mostrou nenhum sinal de parar.

“…De jeito nenhum.”

Ele teve um pressentimento horrível. Enquanto Sakuta gritava mentalmente para ela parar… a mãe dela passou direto por Mai.

Quase como se ela não pudesse vê-la…

Como se ela não pudesse ouvir a garota chamando por sua mãe…

Ela passou por Mai com muita facilidade.

Ele pode instantaneamente ver que algo estava acontecendo entre as duas mulheres separadas. Seu coração se apertou. Ele se sentiu chocado e o medo fluiu através de seu corpo.

Mai correu para a frente de sua mãe, gesticulando e implorando.

“Você não consegue me ver?”

Sua voz foi carregada até Sakuta.

Mas a mãe dela mais uma vez passou por ela, e os braços de Mai caíram frouxamente. Naquele momento, Sakuta se moveu em direção a Mai, aproximando-se da mãe dela.

Quando ele estava a cerca de dez metros, a mãe dela notou sua aproximação, e quando ele chegou aos cinco, ela falou irritada para ele, procurando por confirmação.

“Era você?” Ela era semelhante a Mai nessa maneira, e Sakuta ficou surpreso. “Por que você me chamou aqui? Quem é Você? Eu já vi você antes, mas não nos conhecemos, não é?”

Ela perguntou sucessivamente.

“Eu sou Azusagawa Sakuta. Um estudante colegial. Daquele lugar.”

Ele apontou para a Escola Secundária de Minegahara, depois da Estrada Nacional 134.

“Entendo. Então, o que você quer comigo, Azusagawa Sakuta-san? Estou ocupada.”

“Ah, não sou eu quem quer algo com você.”

Ele podia sentir o olhar de Mai por trás de sua mãe.

Ela pareceu se preocupar e fez algumas outras tentativas, mas no final ela lentamente assentiu. Mai provavelmente tinha pensado que isso poderia acontecer, e trouxe Sakuta aqui como uma preparação para o pior caso. Usando o encontro como isca…

“Quem é então?”

Ele achou que essa era uma pergunta estranha.

“É a Mai-san, você sabe certo?”

Foi por causa do e-mail que a mãe dela tinha vindo aqui. Mesmo que ela não pudesse ver Mai no momento, isso não deveria mudar essa realidade.

“…”

A mãe de Mai o avaliou fixamente.

“Você pode me dizer mais uma vez, quem me chamou aqui?”

“Mai-san a chamou.”

“Ela chamou?”

“Sim.”

A mãe dela segurou o cabelo enquanto o mesmo balançava ao vento e depois falou.

“Quem é essa.”

“!?”

Os olhos de Mai se arregalaram em choque. Ele podia ver os olhos dela tremendo impetuosamente. Isso era natural, a mãe dela tinha perguntado quem ela era.

“Sua filha!”

Sakuta respondeu emocionalmente. Elas podiam ter se separado, mas a reação da mãe dela tinha sido muito cruel.

“Eu não tenho uma filha chamada Mai, pare de brincar.”

“Qual de nós está brincando!?”

Em contraste com as emoções ardentes de Sakuta, a mãe dela estava apenas calma.

“O que é isso? É porque você quer se tornar parte da minha agência?”

“Por que eu iria querer? O que você está…” No instante em que ele olhou para os olhos dela novamente, Sakuta ficou em silêncio. Ele notou os olhos dela olhando com pena para ele… A pergunta anterior dela era genuína, ela não sabia quem era ‘Sakurajima Mai’ era… Foi por isso que ela disse essas palavras…

Os olhos da mãe dela não tinham sequer uma pitada de engano.

“Isso mesmo, a mensagem! Mai-san enviou uma mensagem dizendo que ela iria encontrá-la aqui hoje, certo?”

“Se eu te mostrar isso, você vai parar com essa farsa incompreensível?”

A mãe de Mai tirou o smartphone de sua bolsa e virou a tela para Sakuta.

“…O que?”

Isso tinha sido enviado por Mai, que olhava para a tela ao lado dele. Claro, a mãe dela não podia ver Mai ou ouvi-la.

O corpo da mensagem era o mesmo que Mai lhe mostrara antes.

No dia 25 de Maio (domingo), venha à praia de Shichirigahama às 17h.

‘Mai’ estava escrito no campo ‘de’, não havia nada de estranho nisso e, ainda assim, por algum motivo.

“O remetente é desconhecido, mas eu fiz um esforço para colocar isso no meu diário, e até liberei algum tempo para isso… o que é isso?”

Sakuta era quem queria perguntar isso. ‘Mai’ estava claramente escrita ali e, no entanto, a mãe dela não conseguia ver esses caracteres.

O que ele poderia dizer dessa discussão era que pelo menos quando a mensagem foi enviada três dias atrás, ela sabia que o remetente era sua filha, Mai. Foi por isso que ela tinha liberado um tempo para ter a oportunidade de vir aqui.

Mas em algum momento, enquanto o dia se aproximava, a mãe de Mai a havia esquecido. Não apenas ela não podia vê-la ou ouvi-la… ela tinha esquecido completamente dela. Ele não podia acreditar nisso, mas o comportamento da mãe dela não deixava outra explicação.

“Algo tão ridículo assim aconteceu?” Ele inconscientemente colocou isso em palavras. E mesmo ouvindo isso o fez arrepiar e sua voz ficar seca. “Pode uma coisa tão ridícula assim acontecer?”

Ele disse duas vezes para a mãe dela.

“Essa é uma interessante forma de se promover, mas é absurda demais. Estude a sociedade um pouco mais e tente novamente. ”

A mãe de Mai se virou e voltou pelo caminho que tinha vindo.

“Você é a mãe dela!”

“…”

Ela não se virou e nem parou.

“Como você pode esquecer sua filha?”

“…Isso é o bastante.”

Essa foi a voz calma de Mai.

“Por quê!?”

“É o bastante…”

“Nós não terminamos de falar!”

Sakuta estava colocando todas as suas emoções em seus gritos nas costas dela.

“…Por favor pare.”

Sua voz quase chorosa congelou o corpo inteiro dele. Ele notou que estava machucando Mai ainda mais e ficou em silêncio.

“Eu sinto muito.”

“…”

“Eu realmente sinto muito.”

“…Mhmm, está tudo bem.”

“…”

O que diabos tinha acontecido com Mai?

Sakuta tinha pensado que ela se tornara invisível e inaudível no momento. A própria Mai também pensara isso. Vir aqui os fez encarar a realidade de que eles poderiam ter tido um grande mal entendido.

Sakuta e Mai podiam não saber de nada. Ela não podia ser vista, não podia ser ouvida… e até mesmo sua própria existência havia desaparecido completamente das memórias de sua mãe.

“…”

Quanto mais ele pensava sobre isso, mais desconfortável ele se sentia.

“Sakuta.”

Os olhos de Mai boiavam ansiosamente. Vendo isso, Sakuta percebeu que Mai tinha a mesma dúvida. [NT: eu tive certa dúvida em qual verbo usar aqui, visto que a tradução usa ‘swam’, então interpretei que ela moveu os olhos em meio a algumas lágrimas]

Não será apenas a mãe dela, ela pode até desaparecer das memórias de outras pessoas.

Ele não sabia quando isso iria acontecer, mas isso poderia acontecer quando ela estivesse invisível. Ou talvez não.

Mas se ela realmente desaparecesse das memórias das pessoas…

Não demorou muito para que essa dúvida se tornasse convicção.

⟡ ⟡ ⟡

Sakuta e Mai tinham percorrido o caminho que costumavam viajar até a Estação Shichirigahama e rapidamente entraram no trem para casa. Eles não tinham realmente discutido isso, mas eles naturalmente seguiram pela estrada de volta a casa.

No caminho, Sakuta tinha falado com os turistas e com os moradores locais. É claro, isso foi para perguntar-lhes sobre ‘Sakurajima Mai’. Ele perguntou a dez ou mais pessoas, e todos disseram a mesma coisa.

“Eu não sei quem é ela.”

Não havia uma única pessoa que dissesse que a conhecia. E nenhum deles podia vê-la também.

Mesmo assim, Sakuta desejava profundamente, desejava que ele tivesse apenas falado com pessoas que não a conheciam. Mas essa pequena esperança logo se extinguiu.

Assim que chegaram à Estação Fujisawa, Sakuta usou um telefone público para ligar para a apresentadora, Nanjou Fumika. Ele estava certo em ter mantido o cartão de visita dela em sua carteira.

“Alô.”

Uma voz um tanto formal respondeu ao telefone.

“É o Azusagawa Sakuta.”

“Oh meu,” a voz dela de repente se avivou, e seu tom certamente subiu. “Em pensar que eu receberia uma amorosa ligação sua, este deve ser um dia especial.”

“Não há sequer um pingo de amor aqui.”

“Você não fantasia ter um relacionamento ardente com uma mulher mais velha? Estou feliz em brincar com fogo.”

“Esse é o equívoco de uma mulher mais velha.”

“Então, o que é.”

Aparentemente, Fumika tinha o hábito de não escutar as coisas que a incomodavam, visto que ela mudou de assunto.

“É sobre a Sakurajima Mai.”

“O que é isso de repente?” Oh, pensou Sakuta, isso foi uma resposta. No entanto, suas expectativas foram destruídas pela continuação dela. “Quem é essa?”

“…”

“Alô?”

“Você não conhece alguém chamada Sakurajima Mai?”

Ele perguntou novamente.

“Eu não, quem é ela?”

“Então… sobre aquela foto?”

A foto das cicatrizes no peito dele. Ela deveria pelo menos ainda ter isso, e prometera a Mai para não publicá-la. Em troca de um exclusivo no retorno de Mai para o show business…

“Eu prometi que não iria publicá-la, certo? Eu lembro, não vou.”

“Para quem você prometeu?”

“Para você obviamente, Sakuta-kun. O que foi? Você está bem?”

Ela parecia meio interessada e meio preocupada com a condição de Sakuta. Sakuta achou que deveria parar a conversa ali, antes que ele causasse problemas para si mesmo.

“Estou bem. Desculpe, eu estava preocupado com a foto e acabei dizendo algo um pouco estranho ”.

“Tão desconfiante~”

“Sinto muito por incomodar você quando estava ocupada. Com licença.”

Enquanto ele podia se manter calmo, Sakuta desligou.

Ele colocou o receptor de volta, suas mãos estranhamente pesadas.

Ele lentamente se virou para onde Mai estava esperando, e balançou a cabeça. Ela provavelmente não esperava muito para começar, não mostrando nada em seu rosto e simplesmente dizendo.

“Entendo.” Ela então continuou monotonamente com “Obrigada por hoje, tchau,” antes de se virar. Não houve hesitação nem insegurança. Mai seguiu direto para o caminho de volta para casa.

Afastando-se com seu habitual andar indiferente.

O peito de Sakuta doía enquanto ele a observava ir. Ele foi impulsionado por um mal-estar, que se ele a deixasse ir, ele nunca mais a veria. E então, seu corpo se moveu sem seu comando.

“Mai-san, espere.” Ele correu atrás dela e agarrou seu pulso. Embora ela tenha parado, Mai não se virou, apenas olhando para frente. “Vamos.”

“…” Mai levantou seu rosto um pouco. “Ir para onde?”

“Pode ainda haver alguém em algum lugar que se lembre de você.”

“Já está bem claro que todo mundo, exceto você se esqueceu de mim.”

Mai riu secamente.

“…” Ele não negou isso. Ele não conseguia. Ele não conseguia pensar em mais nada nessa situação. E a própria Mai pensava da mesma maneira, foi por isso que ela disse isso. Mas ainda assim, ele queria acreditar. Acreditar que se eles fossem a alguma cidade distante, alguém saberia de Mai, seria capaz de vê-la e apontar para ela dizendo: ‘Aquela não é a Sakurajima Mai?’ Ele ainda queria acreditar nisso. “Vamos verificar.”

“Em que irá mudar ao verificar? Em que irá mudar ao saber que ninguém mais pode me ver, que ninguém mais consegue se lembrar de mim?”

“Pelo menos, poderei estar com você enquanto fizermos isso.”

“!?”

Claro que ela ficaria apreensiva. Ela não poderia não ficar, ela estaria sobrecarregada por isso. Ela não saberia o que estava acontecendo, ela não sabia por que isso estava acontecendo, ou o que seria dela amanhã. É claro que ela ficaria assustada se voltasse assim para sua casa deserta.

E como prova disso, os ombros dela tremiam levemente enquanto ela olhava para baixo.

“Ou pelo menos, eu quero estar com você, Mai-san.”

“…Você é atrevido.”

“Estamos em um encontro, afinal.”

“Você é tão atrevido, mesmo sendo mais jovem.”

“Eu sinto muito.”

“Minha mão dói, solte-a.”

Ele notou que estava segurando a mão dela com força e rapidamente a abriu.

“Eu sinto muito.”

“Eu não vou te perdoar com apenas um pedido de desculpas.”

“Eu sinto muito.”

A curta troca de palavras entre eles foi quebrada ai.

E então, depois de um minuto de silêncio.

“…Okay.”

Mai sussurrou.

“Hmm?”

“Se você está dizendo que não quer me enviar para casa ainda, eu irei continuar nosso encontro.”

Mai olhou para cima e provocativamente cutucou o nariz de Sakuta. Em algum momento, o tremor dela havia parado.

Deixe um comentário